Álvaro Antônio Nicolau
Psicólogo/ Neuropsicólogo

 

Há muito temos atuado, seja na avaliação psicológica, neuropsicológica ou psicopedagógica, mas efetivamente em intervenção psicoterápica, envolvendo pacientes encaminhados por conta de diagnóstico prévio de processo depressivo moderado a severo, e ansiedade generalizada, ou ansiedade social.

 

Nesse período de pandemia alguns encaminhamentos foram significativos e os fatos em si me chamaram a atenção. Cada paciente com sua particularidade, contudo fazendo parte de um mesmo sentido de objetivos de servir (ser-vir) ao outro.

 

Aqueles que vieram por encaminhamento de organizações onde deveriam ser permeadas pelo sentido de liderança na realidade pura do contato com as pessoas, seja para socorrer, seja para direcionar os comandos, na relação com as pessoas, tornando o “chefe” centro de atenção e acolhimento no direcionamento das coisas e tendo como finalidade dar sentido à missão, são os mais doentes (do-ente). É como se as organizações estivessem em processo de adoecimento, umas mais, outras menos, mas doente por conta das pessoas que nelas se encontram em funções específicas de co-mando e não por ela própria. Até porque as Organizações existem por elas mesmas e as pessoas passam. Mas as pessoas fazem as organizações nesse exercício de estar-com-os-outros.

 

A realidade, o seu cotidiano nos contatos, nos faz entender, e estudos já nos mostram isso, que o ato de comandar (mandar com) e o ato de exercer o comando, não são coisas para principiante, pois um dos elementos do ato está na relação com os outros. A responsabilidade do cargo está associada a valores, à ética, a compromissos.

 

Mas, realmente, não é fácil comandar, não é fácil exercer essa particularidade de relacionar com o outro. Não importa esse outro, que muitas vezes está invisível, mas se distribuem entre os “subordinados”, “pares”, ou “superiores” em suas mais diversas funções.

 

Sobretudo, o ato de comandar, de chefiar como queira, não é para principiante. Ser líder pode ser um obstáculo. Pode ser algo inalcançável. Em quaisquer circunstâncias pelo homem e sua natureza. Perguntado a um dos mais sanguinários “comandantes” da América Latina, o que ele fazia para manter as pessoas ao seu redor considerando o seu modo-de-fazer-as-coisas, ele responde “há que ser duro, mas perder a ternura jamais”.

O exercício da liderança é algo a ser buscado, trabalhado e passa pelo seu sentido-de-ser-no-mundo. Passa pela sua natureza humana. Passa pelo eu- e- o- mundo, e o mundo- e- meu- eu. Existem vidas ao meu redor, e preciso entender isso. Ao redor do comando, da chefia, há vida que precisa ser sentida, ouvida, trabalhada.

 

Alguns se arvoram da sua posição na estrutura hierárquica para sufocar os outros e se tornam verdadeiros vampiros da energia desses outros.

 

Suportam-se pela posição hierárquica na Organização, ou pelo tipo do paletó que usa, ou cor do galão, ou pela quantidade de estrelas ou de traçados da divisa.

Na melhor acepção do sentido dado, alguém pode ser alçado ao cargo, mas suas ações poderão estar distante do próprio cargo.

 

Vive-se uma pandemia, e novas pandemias vão aparecendo, ou reforçando-se pela dimensão da pandemia do medo nas organizações. Muitas delas causadas pelo próprio tratamento dado pelas linhas hierárquicas da incompetência, de enraizar-se no sentido do comando e da liderança.

 

Assim o sentido é causa, e o sentido é efeito.

 

O resultado? A doença passa ser a referência. As pessoas estão ficando doentes (do-ente), e pedem socorro pela “saúde mental”.